domingo, 27 de janeiro de 2008

Penso logo escrevo / Como e porque sou conflitante*.

Segue minha nova descrição de perfil:
Escrevo com dolo** sincero. Dolo esse que me arranca os escrúpulos e idolatra a expressão. Dolo que improvisa meu direito de opinião, esse passando a se barrar somente a limites legais e não a visões de terceiros ou ao tempo da voz. A minha escrita ultrapassa a voz onde o meu pensamento reverbera infinitamente, entre mentes conhecidas e desconhecidas, entre a criação e o depois, e não somente no tempo único da voz sem eco ou reprodução.
E nesse hábito, saudável, eu diria, o pensamento contínuo se marca na consequência e no autor, que contempla sua obra como parte de si, tal como vejo meu contentamento sobre minha escrita da mesma forma de que o homem de paletó vê contentamento em sua prática, ou o condenado vê contentamento em sua liberdade.
E nessa análise da obra vejo que o fruto dessa pode tardar a vir, mas que o êxtase é instantâneo e ao mesmo tempo duradouro.

*Fiquei em dúvida quanto ao melhor título e empreguei os dois, o primeiro dispensa descrição e o segundo é menção a obra "Como e porque sou romancista", de José Alencar, que tratava de sua escrita romântica com romantismo, da mesma forma que eu trato minha escrita como conflitante.
**Em termos legais "dolo" significa a intenção e o consentimento da negligência, da fraude (como o homicídio doloso, de dolo diferencia do culposo, de culpa), nesse artigo eu o uso como o consentimento da ação de pensar e escrever, que leva a palavra "sincero" para esclarecer que não vem da intenção de fraudar, e sim de expressar.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A torta de abacaxi.

"Amor, você trouxe a torta de abacaxi que eu gosto?" Falou alto sua mulher, saindo do banheiro com a toalha em seus cabelos, irrompendo em um baque os pensamentos do homem, que só pensava no livro, questionando se havia montado certo o dispositivo.
O homem relutou, dizendo estar cansado de seu trabalho, queria descansar, mas sua mulher insistiu que ele saísse para ir buscar a tal torta. Não era surpresa, ele sabia o que o aguardava, tinha premeditado a situação. Vestiu seu paletó e começou a andar, e enquanto saía de seu quarto sentia a ansiedade se tornando presente em seu corpo.
Detestava o homem sua casa, seu covil particular, mas pouco se importava, iria se sentir bem em alguns minutos. Tentou trocar algumas palavras com sua filha antes de sair, tentativa falha, já que essa tinha toda a sua atenção presa a seu computador e toda a vida que esse continha. E o homem não se via em sua filha da mesma forma que não se via naquela casa, mas isso pouco importava naquela hora.
Saiu da casa e ao fechar da porta viu que nada mais o impediria, já havia traçado seu objetivo para aquela noite e não mudaria seu cronograma. Sentou-se em seu carro, sua ansiedade agora crescia, e ele dirigiu até a praça perto de sua casa, como planejara.
Então o homem saiu de seu carro e andou até um banco da praça, onde sentou, observando atento o movimento ao redor, e foi quando avistou o banco que estava procurando com os olhos, do outro lado da praça, e viu um homem sentado no banco em questão, um homem de terno, lendo um jornal. Por um momento pensou: "Um homem como eu." Mas logo concluiu que isso era um tanto improvável.
Então, como havia previsto, ele levou a mão ao bolso e tirou o pequeno controle, controle que havia montado algumas horas antes, suas mãos tremendo não de medo, e sim de excitação, como as mãos de uma criança prestes a receber um presente. E então ele mirou brevemente o controle com os olhos e apertou seu botão.
O som da explosão ecoou pela pequena praça, os homens e as mulheres que estavam perto do local, que agora pouco lembrava o banco de madeira que um dia foi, transitavam para longe do mesmo e se perguntavam, alguns aos gritos, o que havia acontecido.
E o homem de paletó observou todos os acontecimentos. Não se importava com a explosão, tampouco com a vítima no banco da praça, "pessoas morrem todos os dias", pensava. O sangue e os destroços tinham lá sua beleza, sua arte, mas sua excitação verdadeira ainda não o tinha atingido.
E foi então que ele observou as dezenas, talvez centenas de pessoas que transitavam como zumbis por aquela praça, em suas rotinas cegas. Todas elas, sem exceção, haviam sido atingidas pelo espetáculo da noite, todas elas haviam recebido um baque em suas consciências, aquelas pessoas que andavam com pressa, pensando no trabalho, na família, escravas de suas próprias rotinas impensadas, todas elas haviam recebido uma estória a contar, uma nova perspectiva de vida, um motivo a faltar o trabalho, mas principalmente, todas elas haviam recebido uma surpresa, e o homem de paletó viu o presente que ele havia dado a todas essas pessoas, e isso o encheu de contentação, mais do que isso, ele se viu repleto de uma sensação de missão cumprida.
Mas o homem de paletó não podia pensar no espetáculo que causara a todas aquelas pessoas, ou como aquilo o fazia sentir-se bem, tampouco podia pensar no livro sobre explosivos que se encontrava em sua pasta, ele tinha de aproveitar aquele momento por só mais alguns segundos, somente mais alguns segundos de prazer e liberdade, antes de ir comprar a tal torta de abacaxi e voltar para a sua casa.

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sábado, 19 de janeiro de 2008

O entre-eras e bastante empreendedorismo.

Estou atualmente num bloqueio de criatividade então não me resta opção que não seja falar do entre-eras que é a minha geração, nessa época atual, que é o que está na minha cabeça ultimamente. É difícil me expressar nesse assunto em específico pois são muitas idéias que se entreligam por linhas impensáveis (isso mesmo, impensáveis), mas vou tentar me explicar.
O que é o entre-eras? Bom, o entre-eras especificado é o vácuo que existe na vida social de um indivíduo normal (leia-se, que não segue a manada, mais detalhes nos próximos parágrafos) na faixa etária de 14 a 17 anos atualmente na sociedade e pela sociedade, um exemplo bom é dizer como a fase entre você fazer um aniversário num McDonalds e um aniversário "no bar". Essa fase é atualmente uma condição desses indivíduos de não serem mais as crianças que já foram e os adultos que virão a ser, inibidos, esses, na condição de serem menores de idade, entre outras.
Deixe-me exemplificar melhor: Hoje em dia se um grupo de amigos de 16 anos quiser sair para jogar sinuca de duas uma, ou eles vão a um bar onde seja "proibido" a entrada de menores, correndo o risco de levar uma "batida" da polícia local ou eles vão a um estabelecimento familiar, como um Boliche & Sinuca e se sujeitam a estar em um ambiente possivelmente inferior. Também se o mesmo grupo resolve sair para um pub (estilo de ambiente social parecido com um bar, muito famoso na Inglaterra), por exemplo, acabam se deparando com a frase de praxe: "Somente acompanhado dos pais".
Não é de hoje que o brasileiro tem uma visão empreendedora defasada, mas existem tantos investimentos para públicos-alvo distintos e mesmo assim essa população de pré-universitários que possuem um poder monetário relativamente alto através de dinheiro dos pais ou mesmo de trabalho, da faixa da classe média/média alta não possuem a devida atenção do mercado.
Acordem empreendedores, esse povo de 14 a 17 anos está precisando de um lugar para simplesmente ir e conversar! Hoje em dia essa faixa tem entre seus programas-comuns festas no estilo de "Clube do tal lugar", "Festa de não-sei-aonde", onde esses jovens pagam R$20,00 , R$30,oo , R$40,00 para ir num lugar dançar músicas diversificadas e "ficar" com jovens do outro ou do mesmo sexo e eu já pensei que eu era o único a achar que eu não pertencia a esse mundo infantil e sujo, que eu não achava isso algo legal, em querer simplesmente sair para conversar com amigos, mas hoje vejo que muitos conhecidos meus tem essa mesma visão, esse mesmo desejo de serem tratados como adultos e não como crianças.
Fazer um estabelecimento de sucesso não é difícil, "taí" uma abordagem muito simples de atingir esse público alvo, o empreendedor compra um imóvel simples e coloca um nome de fachada igualmente simples, nada que pareça muito "arrumadinho" como "Garagem" ou "Canto do Jovem" com a descrição: "Organizamos eventos para jovens entre 15 e 20 anos". Pronto, acabou, você já tem um sucesso em suas mãos, esses jovens que costumam ser tratados como crianças e impedidos de ir a estebelecimentos para maiores utilizariam essa noção de - falsa - liberdade para gastar dinheiro em eventos como aniversários sem a "familiarada" ou comemorações em geral entre amigos, basicamente, o lado social de um típico bar para uma outra faixa etária ignorada pelo mercado e cheia de capital a gastar.
O que eu não vejo de grupos de amigos que saem de colégios e que querem sair ou que querem sair no fim de semana ou na época de férias e querem se reunir em um local tranquilo para passar um tempo não é pouco, isso que eu não estudo em um colégio particular, onde estão os verdadeiros gastadores, esses com certeza estão procurando um lugar pra passar - e gastar - o tempo.
E voltando ao empreendimento, o mantimento desse local seria algo muito simples, o jovem chegaria e pediria por exemplo "Eu quero fazer um aniversário, quero uma mesa de sinuca e dardos" ou "Quero uma festa para mim e minhas amigas, poder acender uns incensos e - sei lá - tomar chocolate quente". Pronto, você tem uma idéia de empreendimento, pelo simples ato de tratar um jovem como um adulto, você vai, move a mesa de sinuca, a mesa de pebolim, o jogo de dardos, o fliperama, ou seja lá qual for o tema que o cliente escolher do armazém nos fundos do local e no fim da noite você coloca de volta, ponto final.
É incrível como se pode utilizar termos de responsabilidade em um negócio como esse para lidar diretamente com o cliente pedindo a sua assinatura e a dos pais, sendo que os pais não precisam estar presentes no dia do evento. Tais termos também podem ser usados para que se algum maior compareça em um evento esse possa assinar que as bebidas alcoólicas que virão a mesa/salão serão para ele, e a partir disso o estabelecimento perde a responsabilidade legal de para onde vão as bebidas, ou seja, se um garoto sair de lá vomitando a culpa é de quem assinou, muito simples.
Outra opção de estabelecimento para essa faixa etária seria um pub organizadinho, bem decorado, com mesas e locais bastante separados e com sofás, para deixar os clientes com uma sensação caseira e em uma parte da mesa uma daquelas entradas USB e entradas de cd/dvd comunicando com o som para a mesa, com o volume regulado pelo estabelecimento, claro, onde o cliente chega, coloca o seu mp3 ou o seu cd/dvd e escuta suas próprias músicas, de forma que não escute as do vizinho, pronto! Esse diferencial já é suficiente para fazer um ambiente popular, o mesmo diferencial que fará com que seus clientes comentem e divulguem o local, ou seja, pronto, você já tem um sucesso em suas mãos, sendo para atrair o público universitário ou o mais jovem.
Falta para o empresariado brasileiro esse ato de pensar a frente de suas cabecinhas fechadas, é incrível como uma idéia dessas pode dar certo, principalmente o lance do USB, se um bar/pub na cidade fizesse isso e garantisse essa liberdade para o cliente eu não daria 6 meses até que a idéia se dispersasse por outros estabelecimentos em toda a cidade (e eu ficaria muito orgulhoso e manteria esse artigo para provar minha autoria, claro).
Está na hora dos jovens notarem que não precisam ir para "baladinha" para se divertir, está na hora dos empresários brasileiros perceberem que esse público alvo está gastando dinheiro em lojinha de Shopping e baladinha sem graça e precisando de um lugar para se reunir, está na hora do brasileiro começar a abrir a mente.

O artigo acabou sendo mais empreendedorismo e menos entre-eras, mas acredito que teve lá sua beleza. Ainda peço para quem lê que poste comentários.

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Score, e mais algumas coisinhas.

Segue meu score da primeira e segunda fase da UFPR, considero um score muito bom levando em consideração que sou treineiro e não estou na idade de entrar em faculdade.
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Ah, e as outras coisinhas, bom, ontem descobri que meu pai tinha conseguido score suficiente para passar em uma faculdade pública em São Paulo, quando ele prestou, anos e anos atrás, mas por medo de não passar acabou fazendo inscrição em uma particular e um ano depois veio para Curitiba, e posso dizer tranquilamente que se ele tivesse feito a escolha certa na hora eu não existiria.
Isso foi só para dar a noção de como nossa existência é não só um acaso mas como é frágil em termos de acontecimentos. Claro, talvez 50% da minha genética estaria em outro filho de minha mãe, considerando que ela me teve em uma idade normal de reprodução, mas os outros 50% provavelmente não teriam atingido a vida.
Não espero atingir religiosos com essa divagação, tanto como se eu começar a especular e especular poderia dizer que se meu avô tivesse um par de tetas eu teria três avós, e se vaca voasse chovia leite.
Esse artigo começou com a idéia de ser um artigo curto, doce ilusão, citando meu companheiro Agenor de Miranda Araújo Neto: "Sempre fui perfeito para fazer discursos longos. Fazer discursos longos sobre o que não fazer. Que é que eu vou fazer?*". Mas a base do artigo é realmente uma idéia forte. Quais são as chances de que nossos dois pares de 23 cromossomos terem se encontrado? Quais são as chances de realmente nos tornarmos vida ao invés de puro carbono, o mesmo do grafite e do diamante?
Não só nossas estruturas de ossos e músculos são frágeis como também nossa pré-existência em razão da existência em si.
Não pense de forma errônea, a vida não é um acaso, considerando o Universo como algo infinito era somente questão de tempo até a vida surgir, em um ambiente ou outro, um planeta ou outro, mas a nossa existência, como indivíduo**, é nada mais do que um acaso, um magnífico acaso.

*Cazuza - Boas Novas.
**Estranhamente a palavra "indivíduo" não significa cidadão, significa algo como "indivisível", algo que perde sua finalidade se dividido, um copo por exemplo é um indivíduo, e essa palavra foi perfeita para se usar na frase pois cria a sensação de pura existência, sem usar de noção de vida ou elemento da sociedade.

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sábado, 12 de janeiro de 2008

Em terra de cego quem tem olho é... conflitante.

Hoje eu vi o filme "Eu Sou A Lenda", onde o personagem principal está sozinho em um mundo devastado por um vírus que matou 90% da população e deixou a maioria restante em sintomas similares ao da raiva. O interessante do filme para mim não foi isso, não que o filme seja ruim, foi que em uma cena, um humano (se é que esse tem o direito de portar tal palavra) infectado, raivoso e doentio como os outros que apenas mordiam e pulavam em vítimas, soltou alguns cachorros também infectados e igualmente transtornados para atacarem seu alvo, e naquele momento notei que esses seres infectados compartilhavam entre si uma convivência similar a humana, a mesma convivência notada em outras partes do filme onde esses seres apresentavam traços de liderança e estratégia.
Aí que veio a divagação, e quando vem ela tarda a sair embaladinha e arrumadinha nessas palavras que você está lendo. O personagem do filme analisava o comportamento dos humanos infectados como uma anti-evolução social, algo como uma anti-evolução humana, e é aí que me pergunto: o quanto nós estamos infectados?
Pense por um momento que no meio de São Paulo capital surgisse um homem que aparentasse como outro qualquer, mas que andasse de forma lenta, não tivesse pensamentos ambiciosos ou agressivos, e fosse muito, muito calmo. Agora pense que esse homem fosse atravessar uma rua altamente movimentada para tomar um café do outro lado, ou que ele resolvesse sentar na mesma rua para ver o sol se pôr. Qual seria a nossa reação a tal atitude? Ou melhor: qual seria a visão dele de nossas atitudes?
No melhor cenário ele seria ao menos arrastado para longe da rua, no pior ele seria assassinado por não funcionar no tic-tac do sistema. E como ele veria isso, veria da mesma forma que vemos esses seres ficcionais do filme, infectados? Raivosos? Anormais?
Uma vez me falaram a tal frase que muitos já devem ter ouvido:
Em terra de cego quem tem olho é rei.
E nessa análise, quem possui o olho? Nós ou o nosso visitante super calmo? Quem tem a razão ou a superioridade moral para falar em como o outro deve agir, ou seja, quem tem o poder de julgar?
Primeiramente vou esclarecer que não acho que estamos infectados de forma alguma, falei de forma hipotética, e em segundo lugar: essa anedota está completamente errada, quem tivesse o olho nunca, nunca seria rei, como os outros veriam essa visão, como a entenderiam?
Outro filme que também deve ser levado para essa divagação (para quem ainda não sabe eu sou um cinéfilo*) se chama "Um Estranho no Ninho" e trata de algumas estórias que se passam em um manicômio na década de 1960, onde ainda se praticava a lobotomia, que é basicamente pegar um doente mental considerado agressivo e realizar uma incisão em seu córtex frontal para que ele se torne manso, ou seja, abrir um buraco na cabeça de um doente para que ele se torne um retardado, perca a abilidade mental de falar, pensar e urinar no vaso sanitário, entre outros. Quantas pessoas perderam suas faculdades mentais por essa prática no tempo em que ela foi considerada correta? Aliás quantos doentes perderam suas faculdades mentais?
Não só a prática da lobotomia é uma prática imoral, quantas pessoas sãs ficaram todas as suas vidas presas em manicômios por thinking outside the box**? Um exemplo disso foi o homem considerado louco que acreditava na existência de germes e falava deles e as doenças que esses germes podiam causar, claro, alguns séculos depois descobriram que o homem estava certo, mas até lá ele já estava morto e já havia passado sua vida trancafiado (fato falado no filme "Os 12 macacos", um filme muito bom, muito misterioso).
A que ponto chega a capacidade humana de julgar por sua prepotência e pseudo-superioridade moral? Temos realmente o direito de dizer quem é louco e quem é são? A história nos diz que não, que podemos muito bem estar errados. Temos o direito de utilizar nossa idéia de superioridade moral pra transformar a Terra como bem quisermos sem se importar com os outros moradores ou mesmo com os outros humanos? Nesse quesito a própria lógica diz que não. Por exemplo, nós temos uma ciência que já chegou a descobrir que os outros mamíferos possuem um sistema nervoso similar ao nosso, e ainda assim colocamos um cabo USB na cabeça de um felino pra saber se o último lote de ração está agradando ou não, desconsiderando o fato que sabemos que está causando dor! E além disso sabemos por lógica que a natureza viveria sem nós, e que eles são mais merecedores da vida do que nós que somos destruidores natos, mas continuamos a destruir e a reproduzir.
Não se engane, somos todos cegos, eu inclusive, o título foi só para chamar atenção e citar a idéia do texto, e claro, a ceguisse tratada é relativa. Não somente somos cegos como ainda vedamos o que temos de visão, nesse caso mentalidade e consciência, constantemente, a fim de justificar atos que sabemos que são errados, desde queimar gasolina tendo consciência do aquecimento global até a utilização de bombas nucleares.
Não proponho que ninguém se rebele agora, que vire contra a humanidade, nao proponho nem que entendam tudo o que eu quis expressar, só tenho o desejo de que você leitor veja a vida de forma diferente, aliás quem sabe se um de vocês não tenha um olho enquanto todos os outros sejam cegos?

Agora que coloquei o contador de visitas no meu site tenho alguma noção da divulgação dos meus artigos, e peço para quem chegou a esse link e teve paciência para ler um post por inteiro que faça a gentileza de postar um comentário, que são o instrumento que me incentivam a postar.
Ontem foi o aniversário da minha comentadora oficial, e como um presente adicional escrevi esse post com idéias anti-violência a animais para que ela possa comentar a vontade.
E também para quem me conhece peço que não comentem falando meu nome.

*Cinéfilo: amante do cinema.
**A expressão americana thinking outside the box significa algo como "pensar fora do normal, do previsível", utilizada para incentivar criatividade.

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domingo, 6 de janeiro de 2008

Toyota salvando o planeta e o fiasco do Grand K.

Quem nunca soube do chamado Prius, o automóvel verde, o carro das celebridades e dos que querem um mundo menos poluído, e não foi atingido por uma certa revolta, uma incerteza de que a montadora fazia esse espírito verde, essa imagem da não-poluição somente para ganhar dinheiro, sendo que a montadora japonesa tem o carro mais vendido do mundo, o Corolla, que deve poluir um bocado. Mas de qualquer forma hoje meus amigos, eles me convenceram, eles são mesmo verdes!
Ao folhear a revista Veja* eis que deparo com tal reportagem de que o gerente de controle de qualidade da produção do Prius, na montadora Toyota na província de Aichi, no Japão, morreu por excesso de trabalho (Edição de 9 de jan., página 78). E pergunto-me, como, como uma empresa que se diz verde, ambiental, realizaria o ultraje, o crime, por assim dizer, que seria colocar um homem trabalhando mais de 80 horas extras (horas extras é eufemismo, ele e outros trabalhadores entravam em turnos sem remuneração, em completo voluntariado no maior estilo "ou trabalha ou é rua") todo mês por seis meses até que esse caísse fulminando em pleno expediente, às 4 horas da manhã e não mais levantasse?
Ora, é claro que a única explicação lógica não é que a empresa capitalista se aproveita de seus funcionários para diminuir o custo de seus produtos ao mesmo tempo que se aproveita de seu público ambientalista para vender um conceito, pois o Prius não é elétrico, é um semi-elétrico e sim que a única explicação lógica é que a Toyota em seu âmago de sua consciência ambiental passou a assassinar seus funcionários!
Vejam que genial, pra que investir em carros menos poluentes, sendo que seus funcionários utilizam energia todo o dia, produtos químicos, garrafas pet e isso tudo carregando o símbolo da Toyota e manchando sua reputação, vamos matá-los! Cada funcionário morto é uma quantidade de energia que não será queimada diariamente, uma quantidade de alimentos que não será consumida!
Eu até imagino o diretor da Toyota japonesa em uma entrevista com a mídia mundial, falando de suas ações com frases como "Aquele puto nem assistiu Uma verdade Inconveniente**" ou "Maldito, nem se deu ao trabalho de utilizar o Google Preto***!" e quando questionado sobre ações futuras seus olhos sonhadores brilhariam e ele falaria coisas como "O próximo passo é assassinar nossos clientes, não com bombas nos Prius, é muito CO2 na atmosfera, colocaríamos agulhas com HIV nos bancos, agulhas reaproveitáveis, claro" tudo isso antes de se jogar de sua janela ao final da entrevista, como ato de revolta a toda a energia que já tinha gasto em sua vida.
Você acha isso impossível? No Japão já devem estar espalhando cartazes com fotos do Prius em frente a florestas e os dizeres "Você é o próximo" e "Precisamos de funcionários, mande-nos seu currículo e gasto diário de KW".

Acho que o sarcasmo já disse tudo do assunto, mas agora passando para outro, na mesma revista, fiquei espantado com a matéria de que o Grand K, o cilindro metálico que representa 1Kg guardado a sete chaves no Bureau Internacional de Pesos e Medidas na França está perdendo peso!
O Ser humano é um ser tão peculiar que no auge de sua modernidade, matemática e física, criou uma instituição com o intuito de guardar tal incrível cilindro que é a referência para balanças no mundo todo, e o cilindro perdeu peso! Será que não vêem o quão patético é isso?!
Outros dados da reportagem dizem que o mesmo Bureau havia criado um objeto metálico para representar o metro, e que seria difundido no mundo, e no século XX começou-se a buscar uma definição para o metro que "não dependesse de um artefato físico e que fosse baseada numa constante fácil de reproduzir", e então estabeleceram o metro como "a distância percorrida pela luz, no vácuo, no intervalo de um segundo dividido por 300 milhões".
...
Tenho de lhes dizer Bureau, vocês realmente trouxeram a simplicidade!
E agora com o fiasco do Grand K estão procurando algo que o substitua, eu iria repassar aqui as coisas super simples que estão querendo atribuir como um Kg, como a quantidade de átomos de silício numa esfera de cristal, mas a mudança da noção do metro já dá pra dar idéia dos projetos desses franceses malucos. E é nessa hora que eu vejo minha garrafinha de água de 1 litro na geladeira, olho pra um lado, olho pra outro, e penso "Não, não, não aceitariam, seria simples demais".

*Sim, eu tenho vergonha de dizer que leio uma revista que faz fortuna em esquerdismo barato, nessa edição, no caso, foi uma reportagem de duas páginas sobre o botox da primeira-dama...
**Uma Verdade Inconveniente é um filme dirigido e apresentado por Al Gore que fala do aquecimento global.
***Google Preto é dentre os milhares de filhos do ambientalismo anti aquecimento global, o mais patético. Vem da idéia de que se o google tivesse um fundo preto a diminuição dos 15KW por pesquisa no Google ia salvar o mundo. E acreditem, há uma versão brasileira.

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sábado, 5 de janeiro de 2008

O Condenado.

Henrique nascera em meio a um mundo turbulento, e este pouco se lembrava de sua infância, estava vivendo em uma escola interna, indicada por sua mãe, que tratava Henrique como um rei, e o forçava a ter uma criação de rei.
Muitas vezes Henrique entrava numa guerra interna, tal como os semideuses de suas estórias de tempo de escola, onde disputavam o Henrique amoroso, que aceitava sua mãe e a vida imposta por ela, e o Henrique rebelde, que desprezava o mimo e o amor, e a vida programada que teriam, e é esse segundo, o rebelde, o livre, que deu o apelido de "Condenado" ao primeiro, que seria condenado a ter a vida que a mãe lhe impusesse.
Os anos passaram e Henrique estava passando agora para o melhor colégio de sua região, mas a ele pouco importava. Quando estava em suas aulas não dava atenção a seus mestres, e não se dedicava a nada nas dependências de suas instituições, e às vezes, nas noites de insônia, era tomado por aquela voz prudente do garoto rebelde, que o dizia para abandonar aquela vida, para ser livre e correr pelas cidades, procurando sua verdadeira vocação, e Henrique não acreditava ser rico em espírito e coragem para tomar essa vida, e foi afastando tal voz até que não mais a escutasse.
Pouco a pouco, o garoto aprendeu a aceitar aquela vida, em meio à nobreza e a burguesia, e aprendeu "jogar o jogo". Logo estava rumando para a melhor instituição de bacharelado das redondezas, e novamente não estava espantado ou feliz por tal acontecimento, somente deixou acontecer.
Os anos se passaram e Henrique viu a si mesmo recebendo um diploma, e olhando os sorrisos inertes dos mestres a que tanto desprezava, que não conhecia e não admirava, e novamente o garoto, agora homem, passou mais uma fase em meio ao desleixo, à indiferença. A alegria veio a seu encontro após tantos anos, ao pensar o que o aguardava em sua cidade natal, e decidiu ir a seu encontro.
Ao chegar à sua cidade notou que sua mãe, bastante conhecida em meio aos habitantes, aparentava não ter feito nada nos últimos 18 anos além de contar a todos sobre o filho prodígio que tinha, como ele freqüentava os melhores ensinos e como era dedicado e genial. Contava a todos como ele viria da união dela com um nobre forte e sábio, e Henrique não se surpreendeu ou tampouco veio a calar tal mentira, novamente estava aceitando uma fatia de vida embalada e entregue por sua mãe.
Não tardou até Henrique atingir a política, mal precisava falar em grandes eventos ou congregações, sua presença como o genial Henrique, o estudioso, o imensurável, já era o suficiente para garantir seu respeito, e Henrique caminhou cada vez acima, ganhando cargos e contatos, que como tudo em sua vida eram tratados com indiferença, e não lhe causavam surpresas.
Henrique beirava seus 28 anos quando começou o rumor de que estava em época de se casar, e o mesmo assentiu, como toda a sua vida o fez, e logo foi apresentado a uma moça de origem honrosa, e novamente aceitou essa nova vida, tratando sua esposa com frieza, com a mesma indiferença de todo o resto, mas agora era um homem de família e ao se questionar o porquê de sua indiferença, de sua frieza, crescia um lado incompleto em seu coração, como um vazio que não tardaria a consumi-lo por inteiro, e pela primeira vez em sua vida Henrique estava com medo, e não sabia o que fazer, não lhe passavam nova "fatia de vida" a cumprir, novos estudos a fazer, Henrique estava no controle de sua vida e isso o amedrontava profundamente.
Não tardou até chegar à sua sabedoria que um estado vizinho estaria sendo comandado por um irmão de sangue seu, e Henrique experimentou dessa vez ódio, ódio por sua mãe nunca ter lhe contado de seu irmão, e ódio pelo mesmo ter atingido tanto poder quanto ele.
Henrique pensava em seu irmão e somente nele, e como faria para superá-lo, e ao passar dos meses o ato de pensar e pensar se transformou pouco a pouco em missão, e a missão se transformou pouco a pouco em obsessão.
Já estava no comando de sua cidade, não havia cargo superior a ocupar, e sua família já tinha sido presenteada com filhos, mas Henrique não se importava, a frieza com que tratava suas obrigações era agora desleixo, e este já não se importava com seu povo e suas solicitações, ou sua esposa e seus pedidos, tampouco não havia comparecido ao enterro de sua mãe. Pouco a pouco sua obsessão por seu irmão devorou tudo o que ele havia atingido, sua esposa fugiu e levou seus filhos, o povo enraivecido o tirou do poder, e Henrique beirava o fundo do poço.
Quando esqueceu por um segundo de sua obsessão, por um mísero segundo, tomou consciência, e viu que estava sentado nas pedras da cidade que um dia havia comandado. Passaram-se alguns minutos, ou horas, ou segundos, Henrique já não sabia, e para sua surpresa, quando analisou tudo que havia perdido ele foi tomado por um forte contentamento, um contentamento viral, que o dominava por dentro e o deixava leve, leve como se pudesse voar. Henrique tentou chegar à raiz de seu contentamento, e então pensou. Seria o vazio interior que presenciara na época de seu casamento? Não, não podia ser, e então se afundou em seus pensamentos e descobriu o que inconscientemente já sabia há muito tempo. Viu com clareza aquele menino rebelde de sua infância, que olhava para a sua cara e ria, o chamando de "Condenado", debochando de Henrique e sua criação em mimo, e a vida que lhe tinha sido presenteada, e nunca obtida por trabalho ou esforço próprio.
Henrique tomou um novo estado de vida, onde compreendia cada lado do seu ser, a criação da ilusão do seu irmão, que trouxera sua ruína, e como odiava toda a vida que um dia teve, e agora o menino rebelde era homem crescido, e Henrique já era rico em espírito e coragem para poder traçar sua vida como bem entendesse. Sabia ele que naquele dia, embora velho, desgastado e pobre de riquezas, ele estava pronto para começar uma vida nova, como se tivesse acabado de sair do ventre de sua mãe, que tanto amava e odiava, e decidiu que na manhã seguinte ele iria procurar sua vocação, sua missão de vida, mas agora, naquele momento de lucidez, ele deixou-se tomar por contentamento, e apreciou cada segundo de sua queda e como havia sucedido em sua primeira e verdadeira missão, a primeira que não tinha sido dada ou cumprida para ele, e aquele contentamento passou a ser forte, forte como um touro dentro de Henrique, e ele tinha certeza, como nunca antes, que poderia ser o que quisesse, estudar a ciência que lhe ocorresse e viajar ao reino que lhe conviesse, e não haveria ninguém forte o suficiente para impedi-lo.

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