sexta-feira, 23 de maio de 2008

O conflito de Matheus.

Se houvesse uma palavra para descrever Matheus seria "solitário". 16 anos de vida e o que Matheus sabia de si mesmo - como todos nós - vinha do que lhe era dito. Quem é certo ou errado para dizer como alguém deve ver a si mesmo quando se olha em um espelho; quando está a descrever a si mesmo? A verdade é que Matheus havia passado tanto tempo por entre corvos que este já tinha a imagem falsa de que ele era um desmerecedor, um mal-educado, alguém que não se deve ter por perto.
Como em toda chuva há de cair uma gota que insiste em desviar a rota, havia também na vida de Matheus uma exceção. Tal exceção possuía nome, endereço e formas, e era tudo em que ele pensava ultimamente: Uma menina que gostava dele, que via amor onde outros viam maldade, que via gentileza onde os outros viam desmerecimento.

Entre alegrias de seu novo amor, nosso protagonista novamente tinha de ver seus corvos, seres estes que o viam de pouco em pouco tempo, mas que achavam em imensa ignorância que o conheciam, e faziam fervor em desanimá-lo com suas noções errôneas.
Dos detalhes irei os poupar, pois não há honra em descrever o estúpido, o falso, o triste. Basta saber que naquele dia os corvos entraram na mente de Matheus, e com suas garras verbais ignóbeis este perdeu seus pilares de sustentação, os quais só residiram naquela que o via como ele era.
Tal dia de sufoco acabou-se. Matheus, envolto no pior tipo de raiva que existe, aquela que insiste em guardar-se no peito, voltou à sua casa e foi corresponder-se com aquela que amava, e por razão de sua raiva mal trabalhada, e pelos corvos que tanto odiava, acabou por ser o estúpido que todos o diziam ser.
Uma mensagem de desaprovação daquela que lhe gostava tanto foi tudo o que bastou para Matheus entrar em crise.

Olhos fechados e mente demasiada aberta causaram muito pensar, muito ostentar.
Matheus agora se via de pé e não sabia onde estava.
Reconhecera o óbvio, estava no pátio de sua escolinha de infância, "como era pequeno", pensava, e por um momento admirou aquelas memórias antigas, aquela situação agradável.
Truques da mente e da consciência ferida: O clima agradável, a memória de infância, tudo corroído por duas criaturas que surgem à frente de Matheus.

- Foi um engano, somente um erro do momento, eu sei disso! - Falou a criatura da esquerda, na realidade era Matheus em si, sentado com sua cabeça entre os joelhos, chorando.

- Sabe-se lá o que levou ela a crer nessa tua imagem boa por tanto tempo. Sabe-se lá o que foi que houve que a fez levar tanto tempo para descobrir a desgraça que você é! Que nós somos! - Fala a segunda imagem, "outro Matheus", de pé e com olhos furiosos, encarando de forma prepotente a sua imagem à frente.

Matheus, o observador, encontrara-se horrorizado. Por que havia de sua mente travar tal batalha devaneia? Qual era o significado daquilo?

- Pare de enganar a si mesmo, você é o porco que sempre foi. Nunca iremos merecê-la.

- Não, não é verdade! - Falava Matheus que chorava, entre esperneio, entre nervos, ou seria Matheus o observador, o real?

Ceticismo e esperança não terminaram sua disputa, não houve vencedor. Matheus não suportara mais tal divagação. Acordado em um grito este pode notar a ilógica - e a lógica - do que havia acontecido. Matheus virou-se, e chorou, como há muito tempo não fazia, pois a esperança havia morrido, o lado belo de sua psique, desaparecido.

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domingo, 11 de maio de 2008

Dissertação para tempos inferiores - Primeira Parte.

Segunda Parte.
Terceira Parte.

11/05/2082
Distrito Norte49
Turma 257C
Aluno nº 68
Dissertação para tempos inferiores.

Enunciado: Ressaltar as diferenças na cultura e no desenvolvimento de diferentes modos de produção através de uma dissertação direcionada a um povo de uma época inferior.

Olá povo de 2010, meu nome é Marcos Neto Santos, mas por aqui me conhecem mais como nº 68 mesmo. Venho a falar-lhes do futuro, onde resido. Minha sociedade diz ser perfeita (é o que nos dizem todos os dias, de todas as formas possíveis) e para isso nos fizeram esse pedido de trabalho (que é realizado desde anos e anos atrás) para que possamos mandar uma carta de forma fictícia a uma época antiga, e escolhi 2010.
O porquê de minha escolha: Simples, sua sociedade deve ser muito legal! Imagino em noites de insônia como deve ser utilizar recursos sem se preocupar com taxas de reciclagem, ou como pensar no futuro como uma incógnita, ou o melhor, nem pensar no futuro!
De todas as épocas que estudamos a que mais me agrada é a de vocês, sério mesmo. Como deveria ser divertido tantos brinquedos provenientes do petróleo, e de formatos diversos, ou como deveria ser rabiscar e rabiscar em folhas, sem ter de usar o computador, que nessa época estava em um crescimento tecnológico incrível, também. Como deveria ser andar de autos, queimando gasolina sem se incomodar com poluição, e isso é só o começo. Minha nossa, como deve ter sido presenciar tantas mudanças! Aquecimento global, guerras por recursos, novas idéias de todos os cantos, e claro, todas as revoluções!
Ainda assim, mesmo com tudo isso, o que mais me interessa são as famílias. Oh, palavra forte para a época: “Família”. Mal posso imaginar como deve ter sido bom para a grande parte da população essa vivência entre seres de mesma genética, ah, que vida! Sabe, povo de 2010, nos dias em que vivo família é coisa do passado. Nossos mestres (acredito que a palavra para sua época seria professores) nos dizem que “o problema do capitalismo neoliberal é a hereditariedade do capital e das cotas em empresas, que andava sempre de mãos dadas com o nepotismo e idéias errôneas repassadas em família, como preconceito e antiética” (já nos fizeram decorar esse texto), sei lá, talvez eles estejam certos, mas que seria divertido viver com pai e mãe deveria!
Não sei se estou dissertando corretamente no tema, mas é o que minha cabeça me diz a fazer, só não espero ninguém gritando “digressão, digressão” para mim, aliás, essa época de vocês é a época deste meu livro preferido: “O apanhador no campo de centeio”, ah, como gostaria de sentir o toque de um exemplar original em minhas mãos, no bom e velho papel, que tanto vemos em fotos, mas que tão pouco vimos frente a frente.

Continua.

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