quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Individualismo, a loucura americana, e a enquete.

E foi então que o homem percebeu que em sua vida ele tinha duas sombras, a silhueta de seu corpo na luz e uma outra, impertinente e por muitos desejada, que contorce o caminho por onde passa e não mantém respeito à ordem natural das coisas, perseguida pelos escritores e odiada pelos rotineiros, chamada Ironia.

Trecho muito pequeno para um Devaneio, também muito pequeno para um Conto, mas mereceu ser postado. Pensei em vendá-lo entre aspas, mas não era necessário.

Vamos ao que interessa: Individualismo e os EUA.
Para quem não "está ligado" às eleições dos Estados Unidos, no lado democrático existem dois possíveis candidatos, de forma curta e grossa: Um negro e uma mulher. Pasmem! Já é notícia em todos os grandes jornais do mundo há algum tempo, pela primeira vez, o país símbolo da Democracia (com certa ironia, retomarei o assunto mais pra frente) terá - tomara - alguém que não é um homem branco de meia idade com idéias conservadoras, e sim um "membro de uma classe menos favorecida!" E vem aquela pergunta que todos devem se perguntar, "Os EUA estão prontos para um presidente negro/do sexo feminino?"
Não é essa a pergunta que nos interessa no momento, o que nos interessa é: "Qual será a diferença?"
É incrível como os americanos moldaram uma sociedade tão individualista nas últimas décadas, por exemplo, ao se perguntarem como está a votação entre Hillary (a mulher) e Obama (o negro) os jornais não dizem algo como "o total está tantos 'porcento' para um e tantos 'porcento' para o outro", não, eles dividem toda a sociedade em blocos, ao máximo que podem dividir, até ter uma noção máxima de como anda o voto (e acabaram, pelo menos nessa última eleição, com muitas estimativas erradas), por exemplo: "As mulheres de idade entre 60 e 80 anos estão votando tanto e tanto" ou "Os homens brancos de idade entre 18 e 25 estão votando tanto e tanto". Não é preciso um doutorado em ciências políticas para se imaginar que a maioria dos negros votará em Obama e a maioria das mulheres em Hillary, mas para que uma rede de comunicações faça uma dissecação das raças, das faixas etárias, do credo, é simplesmente algo estupidamente individualista.
E o pior, eles não se dividem somente entre raças, idades e credo, eles também se dividem entre estados, com campanhas políticas que "gastam todos os esforço$ em um estado tal" ou "procuram manter uma boa campanha no lado leste do país", e os resultados das votações para quem irá representar o partido passa também de estado em estado, fazendo parecer mais um filme de ação da década de 90 do que o exercício da Democracia.
Não somente isso, ao final da decisão de quem irá representar o partido Democrata e o Republicano, a eleição para presidente se divide estritamente entre esses dois partidos, sendo que ambos já tem suas pré-concepções e idéias previamente montadas, por exemplo, um candidato republicano (conservador) perderia o apoio do próprio partido disseminando a legalização do casamento gay, e um candidato democrata perderia também o apoio de seu partido ao falar mal do aborto. Existem também os chamados "candidatos independentes", que recebem uma quantidade nula de votos, e não merecem nem serem mencionados.
Então é basicamente isso, nós temos a sociedade atualmente mais bem projetada em ramos científicos/bélicos bipolarizada. E não paremos por aqui, nos EUA as leis também são aprovadas em um ou outro estado, mantendo legislações diferentes da União, ou seja, uma adolescente que mora em um estado que não permite o aborto cruza a fronteira, realiza o aborto, e volta para casa. Então basicamente o povo americano se divide entre estados legislativos, e se já não foi o suficiente se dividem entre cores, se já não foi suficiente se dividem entre credos, em faixas etárias, em costumes. E é justamente por isso que quando um candidato se apresenta para um cargo de grande poder o povo e a mídia não se pergunta quais são suas idéias, e sim de qual dessas infinitas divisões que ele pertence, e claro, se o país está "preparado" para ele.
Nada mais a declarar.
Se me perguntam quem eu acho que deve ganhar a eleição é o candidato Barack Obama, pois não considero correto mais um mandato do partido republicano ou uma candidata (Hillary) que chora, literalmente, em comícios para ganhar votos, o que já foi comprovado que é eficiente - além de patético.
E ah, sobre a ironia em que os EUA são o símbolo da Democracia, acontece que lá o voto de um cidadão não vale o mesmo de que o de um cidadão de outro estado, sendo que o presidente Jorge W. Bush ganhou a eleição com menos votos que Al Gore.

A enquete "No que você acha que o Divagações deveria focar seus posts?" Terminou com magníficos:
Divagações sérias: 6 votos, 46%.
Divagações descontraídas: 4 votos, 30%.
Divagações sarcásticas: 2 votos, 15%.
Contos: 3 votos, 23%.
E por que "magníficos"? Simples, pois se você somar as porcentagens o resultado é em torno de 115%! Ótima matemática do Blogger!

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Carência.

A menina tem oito anos, a mãe senta ao lado da filha, em frente ao computador da casa, e mostra a ela como se conectar a Internet (discada, da época) e como entrar nos chamados bate-papos, ou chats. Sete anos se passam e a menina, agora com quinze, divide seu coração entre duas paixões, duas almas-gêmeas, uma um garoto de outro país, com quem ela se relaciona muito bem, como nunca havia se relacionado com ninguém frente a frente, e a outra um garoto de outra cidade do Brasil, que se revelou ser sua nova paixão, despertada pelo amor do garoto doente a menina, que também nunca viu frente a frente, que está a morrer em um prazo de meses, por uma doença no coração. E então essa menina-mulher chora, chora pela condição médica do seu mais novo amigo, que ao receber a pergunta "O que o médico disse?" responde somente "Não quero nem falar disso", da mesma forma que chorava meses antes, por não poder conhecer seu amor estrangeiro, chora, afinal, por estar incapacitada, pela distância entre seu coração e seu corpo.
A mulher tem 24 anos, após um assalto encomendado, a seu escritório, ela se sentindo sozinha, com seu noivo a viagem em outro continente, passa a usar a Internet como um lugar para amizades, para desabafar, pouco tempo passa e ela conhece um homem como qualquer outro em um jogo, e ao trocarem msn's para conversarem, passam cinco dias conversando sem parar. Alguns meses depois ela continua noiva, e se considera apaixonada pelo homem que conhecera virtualmente, tal que marcou várias viagens para conhecê-lo pessoalmente, mas não pôde concluir nenhuma, agora, prestes a se casar, ela ainda vislumbra conhecer sua paixão adúltera, esperando a primeira chance a tomar um avião.
O garoto tem 19 anos, nunca teve grandes amizades, tampouco grandes amores, e encontra na Internet seu refúgio para ser sincero, amigável e amoroso. Após várias "namoradas virtuais", ele decide conhecer uma pessoalmente. Marcam um encontro em um lugar público e ambos se sentem chocados em como se conhecem, mesmo que nunca tenham sido apresentados pessoalmente. O tempo passa e a relação que era impecável no mundo virtual se mostra impraticável no mundo real, onde não existe Backspace, Aparecer offline ou mesmo um sorriso sincero, que pode ser transmitido a qualquer ânimo.

Não posso dizer quais dessas estórias são verdadeiras, pois não seria ético de minha parte, tampouco não direi quais inventei. O que posso dizer é que nesse caso a verdade supera a ficção, literalmente.
Já fui preconceituoso em relação a amizades ou amores virtuais, onde os bits tomam o lugar da fala, onde a foto toma o lugar da imagem, e é por isso que não farei observações quanto a integridade desse tipo de relação, ou a possível falsidade que nela habita. O que falarei vem de uma dessas pessoas, que me disse uma vez: "A Internet é um lugar cheio de pessoas carentes". E essa pessoa está certa, pois não somente os que não se habituam com a vida social fora da Internet, também os que se habituam, todos, possuem algum nível de carência, algum nível de curiosidade, de necessidade.

Artigo dedicado à G.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Conspirações, campanhas publicitárias e a representação da cota social.

Ultimamente venho a me surpreender por algumas campanhas publicitárias, que podem ser inovadoras ou conseguem ser boas sem serem inovadoras.
Qualquer brasileiro que ligou sua televisão na época pré-natal de 2007 viu algum dos comerciais do CD Queen Collection, que foram bem feitos e devem ter vendido muitos CD's. O que é o interessante disso? "Dá" até para imaginar a cena, em alguma cobertura de um grande prédio comercial de uma metrópole como São Paulo ou Rio de Janeiro, vem a reunião que marcará o lançamento de uma nova idéia, ou mais precisamente, o relançamento de uma boa e velha idéia.
De um lado da mesa o diretor de uma grande gravadora, uma Universal, uma SomLivre. Do outro, o C.E.O. de uma rede de informações, como a Warner Channel (que passou comerciais de um seriado chamado Studio 60 ao som de Under Pressure, do Queen, por boa parte de 2007, prevendo o renascimento da banda) e eles discutem a troca de "favores" (com "s" cifrão), pela troca de serviços.
Alguns dias depois o mesmo diretor da gravadora chama ao seu encontro alguns funcionários de alto escalão de empresas diversas de telefonia móvel, alguns apertos de mão aqui, algumas reuniões ali e está decidido que após o lançamento da coletânea o principal comercial da rede Claro de celulares usará outra música da banda em questão, a música A Kind of Magic.
E pronto, eles já estão criando uma espécie de Brain Storm (o lançamento de uma idéia em várias pessoas) em alta escala, isso já prevendo a vinda do filme sobre Freddie Mercury (vocalista do Queen), que contará com a atuação de Johnny Depp, que já é um fenômeno por entre as idades de 13 ~ 20 anos pela trilogia Piratas do Caribe (que não se compara a outros grandes filmes do Johnny Depp, mas isso não vem ao caso).
É incrível como isso é feito, "eles" pegam uma banda velha, com músicas velhas e imagem velha e consequem fazer dinheiro em cima, seja por um ótimo presente de natal, por um filme, ou pela união de várias campanhas publicitárias que acabam se aproveitando entre si. E todos ganham, é magnífico. Não digo para vocês que é algo imoral ou ilegal, e sim que é algo que merece ser levado em consideração, como essas campanhas publicitárias e produtos conseguem recriar uma idéia praticamente morta (a apreciação pelo Queen, no caso) e utilizá-la por vários públicos alvos para fazerem dinheiro, é realmente incrível.

Outras campanhas que também me chamaram a atenção foram o novo comercial dos postos Ipiranga e o anúncio do produto Hot Pocket, da Sadia.
A propaganda da Ipiranga é realmente um auge televisivo. Realmente. Em uma época onde tudo o que se precisa para se vender um produto é colocar mulheres seminuas na televisão, onde geralmente o papel do obeso, do feio, é algo cômico e nunca o personagem principal, como o obeso alvo de piada na propaganda do protetor solar [que me fugiu o nome agora] ou o personagem feio que se tornava bonito ao entrar em um Fiat Palio, a Ipiranga colocou uma mulher obesa (realmente obesa, nada de "gordinha") para representar a consumidora de gasolina, que confia no produto que está comprando. O comercial tem lá um toque de humor sarcástico com a mulher quase caindo de um colchão no começo da propaganda, mas já é um começo*.
Não se enganem, não faço parte da população obesa desse país e não seria por isso a razão de postar esse artigo, mas uma boa parte da população brasileira faz parte desse grupo, e geralmente é ignorada nas campanhas publicitárias.
O anúncio da Sadia que me chamou atenção foi publicado na revista Veja, de forma a ser destacado e colocado no microondas para que a imagem do produto surja através da temperatura, algo interessante e que consegue mostrar o produto com uma clareza, sem deixar de mostrar a simplicidade em que o produto é esquentado.
Me veio a idéia de um anúncio de fornos elétricos, em que o texto que apareceria após o tempo no microondas seria algo como: "Esse papel possui alumínio, você acabou de danificar seu microondas, se você tivesse um forno elétrico você não precisaria se preocupar com isso." Claro, seria algo completamente nonsense e teria lá suas críticas, também haveria depoimentos emocionados de pessoas para jornalistas dizendo terem perdido microondas de anos e anos atrás, mas umas indenizações e pronto, a notícia se espalharia pelo Brasil inteiro, e em poucos meses a maioria das casas populares teriam adquirido um forno elétrico, tal como dizem: "Qualquer publicidade é boa publicidade".
É incrível como em todos esses casos a publicidade tem um impacto forte na sociedade.

O segundo assunto do post é sobre a representação da cota social no brasil, a Ministra da Igualdade Social Matilde Ribeiro, que foi deposta por usar seu cartão de crédito em bares e restaurantes como "emergência nacional", gastando mais de 170.000 reais.
Vejam só que beleza, a representação mais forte da idéia da Cota Social (me pergunto se seria mesmo "idéia", considerando que é anti-constitucional eu diria mais que é um crime, um erro da União por parte de políticos que se aproveitam dessa população para ganharem votos) desperdiçou a sua carreira ganha através de - veja só - cotas sociais, praticando esse crime, é realmente inspirador para jovens de classes consideradas inafortunadas que acreditam na cota.
Agora não se enganem, eu realmente sou preconceituoso, falo isso com todas as letras, que venha o chefe da polícia me prender na minha própria casa por expressar minha opinião se for o caso. Não sou preconceituoso em relação a negros, asiáticos e afins, sou preconceituoso a toda e qualquer pessoa que diga apoiar cotas sociais, pois afinal o preconceito é a pré-imagem de uma pessoa, e eu tenho a pré-imagem de que todos que acham a cota social algo certo serem ignorantes, pois ignoram o bom-senso (para não falar "ética") e a Constituição.
Afinal, já virou praxe tal frase, mas de qualquer forma: Viva o Brasil!

*Procurei um link de vídeo dessa propaganda para colocar aqui, mas o público brasileiro está mais interessado em fazer upload de justamente as propagandas que contam com as mulheres seminuas e afins.

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domingo, 3 de fevereiro de 2008

O gênio.

-A vontade do pai! A vontade do pai?!
-É irmão, e se ele quer nós o faremos.
-Sim... - Assentiu o irmão mais novo, impedido pela falta de argumentos e pela tristeza do óbito.
-Sabe - falou o irmão mais velho, quebrando o silêncio -, as vezes acho que foi por isso que ele desenhou essa sala assim, desde a sua criação.
-"O pai" era inteligente, e sabia arquitetar suas construções como nenhum outro, mas pensar que ele tinha organizado tudo isso, desde tão cedo, bobagem!
-Você Marcos, não acha que ele poderia ter pensado nisso desde a construção desta casa?- Indagou o irmão maior ao sócio de longa data de seu pai, único homem a confiar a missão do dia.
-Talvez, quem sabe. - Falou o homem demoradamente, demonstrando sua tristeza.
Alguns minutos de silêncio.
-Ei, sabe essa idéia "do pai", de continuar existindo depois de...
-Sei. - Respondeu o irmão mais velho, cortando a frase que poderia muito bem não terminar, naquele momento encarar a mortalidade era uma missão difícil a seu irmão caçula.
-Então, é isso que me deixa injuriado, se ele realmente acredita nisso, ele não deveria estar lá, no enterro que foi preparado? Todas aquelas pessoas, aqueles discursos belos e honrosos, e no altar aquele caixão vazio. Aquele maldito caixão vazio.
Nenhum dos homens sabia o que dizer naquele momento, talvez nenhum estivesse totalmente em paz com o que estavam fazendo. Mais alguns momentos de silêncio.
-Olha esse piso, Bruno. De todas as suas construções perfeitas, impecáveis, esse piso sempre foi dessa forma, sobressaltado, e não foi só uma ou duas pessoas que me perguntaram o porquê disso, o porquê dessa única falha entre tantas obras. O pai sabe do que faz, ele mostra agora para nós que ele é impecável em tudo, e mantém sua humildade em mostrar somente a nós. - Falou o irmão mais velho, certo de que o seu pai já tinha arquitetado aquela situação anos atrás, naquele piso sobressaltado da casa que era certamente a mais bonita da cidade em que moravam.
-É o pai mesmo, tão genial e humilde. - Respondeu o irmão entre tristeza e aceitação.
Então os três homens, os irmãos e o sócio, realizaram o último desejo daquele que já tinha sido a pessoa mais brilhante que tinham conhecido, moveram o caixão contendo o corpo sem vida, o caixão verdadeiro, até a abertura recente do piso sobressaltado daquela linda casa, enterrando o homem naquele lar em confidência e humildade, de acordo com o falecido para "existir eternamente na vida de todas as pessoas que morarem na casa que um dia foi minha e que é minha melhor obra".
E fecharam a abertura no piso, encarcerando o gênio em seu destino escolhido, questionando-se se eles haviam cruzado a linha tênue que separa o genial do insensato, todos aflitos e decididos em manter esse segredo, como haviam prometido.

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sábado, 2 de fevereiro de 2008

A futilidade, o esforço dos segundos e a Record.

Primeiramente vou começar esse artigo com essa idéia: Estamos em um mundo fútil. Atenção, é uma idéia, não é um fato. Esses dias eu estava passando por entre os canais de minha televisão quando vou à MTV e me deparo com um anúncio de um programa novo com os dizeres: "Marimoon, a blogueira mais famosa do Brasil agora na MTV". Então fui ansioso ao Google pesquisar qual seria o blog dessa tal de "Marimoon", que para ser a blogueira mais famosa do Brasil teria de ter umas "pirações" muito inteligentes e teria de escrever muito bem, pensei eu. Com o título do artigo não preciso dizer mais nada não é? Adivinha se não chego ao tal blog da infeliz e não encontro um fotolog (vulgo playboylog) de uma mulher tirando foto dos seus cabelos rosas*? E o pior, tem gente que vê isso. Muita gente!
Nossa esse mundo é fútil demais. Pensei ter atrasado a publicação dessa divagação mas vejo que publiquei na data certa (ou "certinha", para meus compatriotas curitibanos): o Carnaval. Alguém por favor pode me explicar por que uma celebração em que mulheres vão para exibir seus corpos (leia-se: agirem feito vagabundas, ou meretrizes, para manter o bom português) e homens vão para a prática do "beijo roubado", que seria crime em qualquer outro lugar do mundo, governado por pessoas sãs, é considerado um feriado nacional? "Tá" certo, o turismo é forte, tem um impacto bom para a economia, mas será que os milhões em investimentos e a ridicularização do Brasil mundo afora não compensa na balança? Isso sem contar o costume de certos povos nordestinos de terem 38 carnavais por mês, mas isso já é um problema social e não de futilidade.
O maior fenômeno da Internet brasileira (que não é brasileiro) é o Orkut, que claro, pode ser usado com seriedade e como um serviço excelente de envio de mensagens, mas não é pequena a quantidade de gente em comunidades como: "Eu nunca morri na minha vida" com 467.560 membros, ou "Eu Tomo Banho Pelado!!E Você?®" com 670.759 membros, ou o melhor, "Eu tenho Orkut!!!" com 335.788 membros.
Eu também tenho orgulho em dizer que meu blog não entra na onda acéfala de blogs extremamente fúteis que tratam de assuntos importantíssimos de serem publicados como "Meu cachorro ficou doente" ou "Amanhã aulas às 10.10 com avaliação de ginástica. Espero conseguir fazer as coisinhas todas certinhas, porque se há coisa em que eu insisto em ter boa nota, é em ginástica!"**.

Estou seco a falar mais da futilidade alheia, retomarei em outro artigo, vou passar ao segundo assunto: Como é incrível o esforço dos segundos lugares em se manter em segundos!***
Faz alguns meses que vi a capa da revista Época com a foto de Luciano Hulk e os dizeres: "Ele merecia ser roubado?" e "O que o roubo do artista diz da alma dos brasileiros" (ou qualquer coisa assim, eu lembro que "merecia" e "alma" estavam na capa). Isso foi na época que esse artista tinha sido roubado e tinha perdido seu Rolex, e ao escrever do assunto, injuriado, obviamente, ao jornal O Estado de São Paulo, esse teve uma reação similar a uma vaia dos leitores, como se ele merecesse perder seu Rolex (claro, afinal todo ladrão é Robin Hood!). É numa capa dessas que se vê que a Época nunca atingirá o patamar de publicação de uma Veja ou de uma SuperInteressante (essa última que hoje me surpreende ainda estar vendendo, com suas reportagens do estilo "Como se proteger de alienígenas usando sal").
Primeiro: Ninguém que mantém um trabalho honesto nunca mereceu e nunca merecerá ser roubado, uma revista nunca poderia colocar uma questão dessas a discutir, e segundo: "Alma", que "alma"? Alma é artifício de vender estória para criança e "passagem para o céu", é incrível, existem tantas palavras ou expressões que poderiam substituí-la, mantendo um nível de seriedade para a revista, como "consciência", "senso vingativo" ou "instrução", mas não, segundo lugar se esforça para se manter em segundo.
Outro segundo lugar que se esforça incrivelmente, mas ainda assim vai acabar por tomar primeiro é a rede Record, é incrível, eles compraram seriados bons, compraram desenhos bons, contrataram jornalistas bons, produziram novelas boas (para quem gosta) e você liga em um horário que ultrapasse a programação normal, em torno de meia-noite, e estão praticamente passando exorcismo na televisão. É incrível, eles compram o que faz sucesso nas concorrentes e em horários tardios eles baixam o nível da programação.
Aliás, eu já fui muito de odiar a globo, sou fã número 1 do "Muito Além do Cidadão Kane", documentário que fala, entre outras podres, de como a Globo ajudou a instaurar o regime militar no Brasil, não cobriu revoltas contra o regime militar em seus jornais da época e como tirou o regime do Brasil quando lhes veio a convir. Mas se vocês acham que estamos mal, no reinado de Edir Macedo será muito pior. Muito mesmo.
Atualmente o dono (ou dono majoritário, não me recordo) da Record, Edir Macedo, tem aquela rede pequenina de templos, a Igreja Universal de Reino de Deus, que existe em mais países que o McDonalds, e ele transforma em torno de 70% do capital recebido da Igreja Universal, capital que vêm sem impostos, em patrimônio da Record, ou seja, patrimônio dele. Em um prazo de meros anos nós teremos a maior rede de televisão brasileira cultuando prece e praticando exorcismo. Viva o Brasil!

*Disponho para vocês uma análise da Marimoon com coisas interessantes como o fato de ela ser comunista e vender bijuterias em seu blog, e cursar faculdade de moda.
**Teclei "emo blog" no google para achar isso, prometo a vocês que eu não tinha esse link horrível anteriormente.
***Entenda-se segundos como os abaixo dos primeiros, sem considerar se são os segundos, terceiros, quartos...

Update: Na noite de sábado de carnaval o SBT exibiu um dos filmes da trilogia O Senhor Dos Anéis, fugindo da programação normal da época, de samba e genitálias, e deve ter conseguido uma audiência alta, aí está um segundo lugar que não se esforça em se manter em segundo, apesar dos "A Praça é Nossa" e afins.

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