sexta-feira, 11 de julho de 2008

Dorme agora. É só o vento lá fora.*

“Olhos claros como o brilho da lua”.
...
“Mãos suaves cujo toque possui uma magia inexplicável”.
...
“Bochechas vermelhas que suaves se tornam pelo beijo enamorado”.

Logo que terminara o seu poema o garoto levanta-se em um salto e começa a andar. Havia um “quê” de conhecido naquelas frases delicadas, algo como um breve dejà vú.

Mãos abanam um cumprimento rápido à moça conhecida, ao passar por uma casa de muros verde-lima. Mais pessoas cumprimentadas e mais sorrisos abertos em direção ao garoto. Algo estava estranho naqueles sorrisos.

O garoto apressa o passo para chegar logo à casa de sua amada, entregar o tal poema, escutando respirações ofegantes de si.

Mais um rosto conhecido a ser cumprimentado, mais um “olá” com o famoso gesto de mão; o menino agora nota o estranho nos sorrisos, são sorrisos inertes, quase débeis.

Mais respirações ofegantes. Queria chegar rápido à sua menina, ver o sorriso recebido, o mais gratificante de todos os prêmios.

“Um momento que lembrarei para sempre. Essa rua, essas palavras”. Pensa o garoto. "Para sempre".

Seus olhos miram suas mãos à procura da carta a ser entregue. Desvanecera! Onde estaria?

Olhos rápidos, aparentando loucura, cruzam todos os lados, não se acham cartas, só branco, nada mais que branco.

Respiração ofegante se torna mais e mais alta. Não estava mais a correr, não via mais a sua direção ou a rua.

Som de choro breve e palavras distantes: “É um mal terrível, porém não há nada a fazermos”.

Algo não estava certo, algo não se encaixava.

Boca aberta e gosto de pílulas pela garganta.

“Basta, agora basta. Durma um pouco”.

O garoto atemporal queria saber o que estava acontecendo. Queria saber para onde teria ido seu poema ou seus conhecidos, queria saber por que suas mãos estavam tão secas e fracas, mas algo o impedia de pensar, algo o estava cansando.

“Hora de dormir”.

Ele queria entender tudo, tudo o que estava passando, mas estava cansado. Precisava de algum tempo de sono, somente algum tempo de sono. E tudo faria sentido. Só algum tempo de sono...

* Legião Urbana - Pais e Filhos.
**Nota: Para quem não entendeu nada, mas nada mesmo deste conto, ofereço uma interpretação nos comentários do mesmo.

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2 comentários:

Castor disse...

Fala, camarada!

Tudo pela ordem natural das coisas?

Vim aqui pra avisar duas coisas:

1) Continuo acompanhando seu blog (bacana, por sinal), mesmo comentando bem de vez em quando.
2) O senhor foi devidamente linkado lá no ENSIMESMANDO.

No mais, só lhe desejo uma boa noite de sono, que algumas vezes, realmente é o melhor remédio...

Bom fim de semana!
Abraço!

Conflitante disse...

Minha interpretação:
O conto inicia com um garoto que está vivendo memórias de uma época feliz, de uma época de paixão. Ao perder sua carta ele começa a notar o que está havendo, e o branco que vê é de seu leito. As vozes que surgem falam de alguma doença, algum mal terrível, que o atormenta. Remédios são ingeridos e nosso personagem tenta entender o que está havendo, mas precisa dormir.

Notas adicionais:
O "dejà vú" sugere que a carta e o caminho são memórias do que já ocorreu.
Os sorrisos inertes, débeis, são sorrisos vistos em sonhos, sorrisos de memória e não de vida.
A respiração ofegante e as mãos secas sugerem que o personagem já se encontra velho.