Denis estava naquele momento, alucinando com outras que não eram a já citada, e sabendo que para voltar à mesma este teria de esquecer aqueles dias de loucuras alucinógenas, enterrá-los no passado. Mas naquela hora ele estava apenas aproveitando seus efeitos.
Em algum ponto nosso protagonista notou que as pessoas à sua volta estavam falando de suas infâncias, sobre como foram mágicas e incríveis e inigualáveis. Refletiu então que ele não havia tido uma infância tão boa, aliás, sua infância foi bastante triste, vazia.
Denis voltou em pensamento à escolinha onde estudara quando tinha poucos anos de vida. Lembrou-se das crianças ao seu redor, de como era sozinho no mundo, e então recordou-se de que em certos momentos, quando se sentia a criatura mais desprezível já criada por Deus ou quem for que fosse, Denis garoto subia em uma grande árvore de sua escolinha, e então observava. Observava a seus colegas como um anjo do desprezo, procurando a menor falha, a menor tristeza, e as encontrava. Sabia decerto onde ver as crianças felizes chorando ou lamentando. Quando ele se cansava, afinal, se sentia poderoso, e dizia baixinho para si mesmo: "Sou o mais poderoso dos homens". Pois se sentia assim.
*
Denis formou-se bacharel com louvor, e como previsto teve de deixar sua vida de bohêmio para trás, e todas as suas especiarias. Com trabalho e mente afiados, criou fortuna a partir de uma série de empresas criadas em sua liderança, de diversos ramos da tecnologia moderna.Certa vez, Denis já homem de grandes especialidades, viu-se tornar um empreendedor no frio negócio de armamentos, o que não o encomodava particularmente.
Em uma transação com um grande consumidor de suas atrocidades, Denis foi presenteado com um vídeo de suas armas em ação, pulverizando aldeias de um povo de região qualquer da África.
O empresário chegou à sua luxuosa residência aquela noite com uma vontade estranha, e altamente ansioso. Cumprimentou sua mulher, seus filhos, e dirigiu-se a seu jardim particular.
Não havia ali grandes árvores, sequer altos arbustos. Denis sentou-se em um banco de madeira, e ligou seu gadget de bolso para assistir ao vídeo de suas criações em ação.
Entre as incontáveis mortes e a destruição que assistia, sussurrou para si mesmo: "Sou o mais poderoso dos homens".
E era. Naquele momento ele era.
*"O homem que vendeu o mundo", trecho da música homônima de David Bowie.
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2 comentários:
Strawberry Fields forever? Triste Strawberry Fields. Um homem de genialidade incrível usada para o mal? Sim, mas nunca perdeu o controle.
Pobre homem, louco com seu suposto poder.
Normal... fácil obter a sensação de conforto com um pseudo-poder que criamos com nossa mente.
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