segunda-feira, 20 de julho de 2009

Anjos.

- Então - ela hesita por um momento -, é que você não acredita em anjos?
Ele sorri.
- O que estou tentando dizer pra você, é que nunca me importei com essas coisas. Nunca. Nunca imaginei eles existindo ou o que for.
- E?
- E quero dizer que... Bom, que se há anjos, ou criaturas místicas quaisquer, alguma delas está sorrindo agora, chorando de felicidade. Por essa noite. Por o que me foi presenteado. Com certeza.
Ela sorri, passa levemente a língua pelos lábios superiores e o beija rápido mas intensamente.
- Agora, por trás do meu ceticismo, consigo ver, sentir. Isso é algo, algo importante, para mim, para nós. É um nascer do sol.
Ela o beijou novamente. Não entendeu muito do que ele quis dizer, mas não se importava. No fundo, ela também sentia como se algo grande estivesse ocorrendo.

*

Em um outro canto da cidade, um garoto alternava entre sentar no chão apoiado contra a parede roçando a testa e andar de um lado para o outro do quarto como se estivesse perdido.
"Não é mais a mesma coisa. De jeito nenhum. Nunca mais será o mesmo entre nós. Por que ela foi agir daquela forma? O que devo fazer?" Divagava o garoto.
A noite terminou com ele irritado mandando mensagens grosseiras pela internet. E se sentindo satisfeito. Somente para nos dias, semanas, seguintes arrepender-se de suas atitudes e entrar em um estado depressivo.

*

Já em outras atmosferas:
- Quantos grandes amores eu tive? Bom, quantos destes temos direito a ter na vida? - Sorriu de leve o homem.
A mulher com quem conversava era alta, de corpo bonito e rosto bem conservado. Era a situação com a qual ele imaginava desde jovem. Uma vida de dedicação, esforços, uma vida dentro das regras, para crescer em um homem atraente, de sucesso, desejado, em uma festa de alta sociedade, com as melhores mulheres e todas à sua "escolha".
- Eu diria que três. - Respondeu a moça.
- É, essa é uma pergunta interessante. Eu ensaiava respostas para essas perguntas quando mais moço. Creio que pensar em um amor perdido como um número a mais em algum contador que se usa em conversas com mulheres deve ser reconfortante. - Sorriu de leve, com ironia. - Mas acho que talvez zero seja a resposta apropriada. Fui solteiro toda a minha vida.
- Solteiro toda a sua vida? - Perguntou a moça com uma mistura de "quase surpresa" com graça.
- Se estou com alguém, apaixonado, ou o que for, mas não posso mostrar meu eu verdadeiro para essa pessoa, qual é o nome disso? Eu diria que é solteirice. Nada mais que solteirice, e não deve ser amor, um grande amor.
Ela sorriu. Ele sabia que a tinha conquistado com aquelas palavras. Por mais que este não tenha sido seu objetivo em dizê-las.

*

O homem termina sua janta e então desce as escadas para a sala de estar.
"Como se acabou tão rapidamente? Não posso culpá-la, concordo que não era mais como antigamente, mas ainda assim. Como?" Pensava.
Estava nos seus vinte e tantos anos. Em uma casa de um milhão de reais. Vazia. Escura.
Cadê os anjos agora, que o amor se foi? Estão o quê? Brigando? Tristes?
Bebeu um copo de whiskey, só para lembrar de quanto odiava tal bebida. Tragou um caximbo. Andou um pouco evitando o sono. E então foi dormir.

*

O menino acorda com o aviso sonoro de uma mensagem de texto em seu celular.
"Amo você. Muito..."
Sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo. Queria manter aquele momento para sempre. Aquele sentimento, para sempre.

*

Todos são o mesmo garoto-homem, onde o tempo não existe. "Onde estariam os anjos", ele se perguntava sazonalmente em sua vida.
Onde?
Onde estariam os anjos?

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Um comentário:

Anônimo disse...

Cada um que organize os trechos conforme sua preferência.

O interessante, todas as passagens ocorrem à noite.