terça-feira, 15 de setembro de 2009

Momento de alegrias e compreensões.

Lembro-me de como era o lanche em minha mão. Em plástico fino, aquele sanduíche natural não era o almoço de que eu precisava, era um marco, um marco das escolhas de saúde que eu havia tomado naquela época. Era ótimo, horrível no paladar, de uma carne de frango sem gosto, mas ótimo de se tatear e de se ver, de se notar e de sentir, a opção de uma vida mais leve.
O cenário era fabuloso. O sol estava na altura exata a iluminar aquele corredor do terceiro andar, através das longas janelas e do piso refleto tal qual lago em calor de verão.
Tenho esta imagem de estar sentado, o tal sanduíche em minha mão direita e água engarrafada – garrafa minha, antiga, não recém-comprada – em minha mão esquerda. De ver os estudantes cruzando o corredor como uma passarela do saber, exibiam em suas faces a maravilha do conhecimento, a aura da sabedoria.
E foi então que contemplei tal momento de luz: A compreensão dos meus caminhos. Pude ver por meus jovens olhos toda a minha vida, e todas as minhas escolhas até então, e todas as minhas sinas. Pude observar as diversas pessoas com quem tive conversas especialmente memoráveis, eventos os quais me fizeram sorrir ou chorar. Meu coração estava como nunca em meu peito, e eu podia sentir seus cortes passados, alguns já em cicatriz, outros procurando ainda cura.
Mas eu estava lá, naquela hora, naquele lugar, e pude sentir todo o fluxo do tempo como se fizesse todo o sentido. Não era porque eu tinha aula de desenho naquele andar, ou porque naquele dia eu precisasse almoçar e um alimento se destacasse especialmente entre outros a mostra. Era porque eu havia condicionado minha vida até ali.
Como foi belo a compreensão! Pude ver todos os traços de memórias levando-me àquela instituição, àqueles meus amigos que tão longe fisicamente estavam mas tão perto em meu coração estavam presentes! Eu pequeno, eu jovem, eu adulto, era somente um eu. Traçado através de tanto tempo a estar naquele momento, observando o sol e comendo um sanduíche natural e bebendo água engarrafada!
E então todas as minhas escolhas receberam a dádiva do perdão, pois eram elas que me levaram até ali, eram elas que me faziam ser eu, mais do que qualquer outra coisa. E naquele lapso da minha rotina – que então pareceu a mais bela das ordens e dos períodos – pude sentir o futuro convidando-me a seu festivo encontro. Mais que isso, pude sentir os traços de carne viva em meu íntimo das dores que eu havia causado e sentido através dos anos, aliviarem-se pela conclusão de que eu era naquele momento, à minha própria forma, completo. Amado, acima de tudo, por mim, que desenhara através de linhas tão sinuosas e embaralhadas, que talvez nem eu mesmo compreendesse seus resultados finais, a vida mais bela. A minha vida. E tudo fez sentido, e tudo fez-se luz.
Raios poderiam partir-me em dois ou três. Naquele momento, meu sorriso não seria quebrado nem pelo mais forte impacto; meu coração, bateria forte e vívido até se tivesse somente a terminal condição de parar sua bateção repentinamente. Eu era completo e perfeito, a meu próprio modo, e nada poderia tirar isso de minha posse.

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Um comentário:

Monologuista Acompanhado disse...

Viajar nos pensamentos durante a rotina, no ônibus, no banho, no pré-sono, impressionante como tenho facilidade de ficar aéreo quando estou só, quando me dou conta até dou risadas comigo mesmo, convenhamos que mexer os lábios enquanto fala-se sozinho não é tão normal.

Afogar-se em agonia durante essas reflexões é corriqueiro, dificilmente os humanos conseguem esse momento de luz, como é bom chegar a esse estado.

Post incrivelmente belo, parabéns, abraço.

PS: participe, http://www.nadaver.com/emo-day-2009/