domingo, 1 de novembro de 2009

Sentir - Segunda Parte.

Sentir - Primeira Parte.

Deixara de ser berro bélico, era agora obra sinfônica.
Às manhãs, "Laila" era motivo de sorrisos, de fazer roçar a cabeça contra travesseiros e cobertas como felino preguiçoso. Às refeições e aos momentos de concentração era refúgio singelo. Quando dito no ócio, despertava alegrias crescentes, incendiava nele como brasa, fazendo-o sentir-se novamente em seus braços, em seus insaciáveis lábios e dentes.
Envolvera-se nela, em tudo o que ela lhe proporcionava. Brincava em sua matemática platônica: fazia-se "função de Laila", pois nos sorrisos dela, em sua fala e em sua forma de ver o mundo, ele moldava seus próprios sentimentos. Aliás, não os moldava, estes faziam-se perante tais fatores qual girassóis seguem sua estrela, qual folhas soltas percorrem o vento: em harmonia metódica, um ritual já a ele inevitável.
Igualmente brincava consigo sobre a bobeira da qual era agora assíduo. Tolos e infantos eram seus atos, às vezes. Fazia-se um novo homem, com aquele sorriso bobo estampando sua face. Estava perdidamente encantado por sua agora - e talvez não tarde - companheira.

Ciclos faziam-se: seus beijos incitavam-o a desejar aquele profundo olhar dela. Seu majestoso olhar fazia querer beijá-la. Nesta dança repetitiva perdia-se a mente, e a sobriedade de seus pensamentos; como umidade em densa nuvem, condensavam-se suas idéias - antes lineares - e desciam por sua mente em gotas dispersas, deixando-o desnorteado.
No encanto dela, fluía nele tal chuva de aleatoriedades. Ocorria-lhe suas atitudes passadas, ocorria-lhe seus desejos, todo seu pensar. Transpassava-o suas obras preferidas, escritos, músicas, tal quais canções fluiam em tamanho caos em que se perdia a ordem e a destreza em administrar seu próprio consciente.
Divagava neste caos, naquele dia, em seus desenhos, seus tão adorados desenhos. Divagava sobre a vida que predescera Laila, sobre as mulheres que igualmente a predesceram. "Nunca tiveram chance alguma", afirmava para si. Sem saber o porquê, divagava em uma canção particular, que na sua adolescência era objeto de grande fascínio, sobre chuvas e buracos em telhados. Divagava sobre o que viesse a si, já não tinha controle sobre sua mente.

Longe de sua adocicada boca, perdia a noção daquele elemento que antes em sua vida fôra concreto, que por vezes havia sido motivo para sua irritação ou desconcentração, mas cuja constância constara ser definitivamente fiel, e de repente não mais o era: o tempo. No castanho celeste de seus olhos se perdiam as cordas que o atavam à linearidade cronológica. Dias aparentavam semanas; igualmente horas bem aproveitadas o transpassavam com a agilidade inclemente de um forte vento gélido de inverno.
Não sabia ao certo o quanto descorrera entre sua declaração a ela e o presente. Afinal, seria este o que estava por viver? Ou seria um sonho, um maravilhoso sonho de primavera, do qual não se deseja acordar?

Às noites, "Laila" era calmaria; era êxtase e era encantamento.
Naquela madrugada, ele pensava nos belos momentos de seu dia, os quais passara com sua musa. Divagava sobre sua canção da chuva, sobre seus pensamentos em condensação escorrendo-o.
Antes de apagar as luzes de seu quarto de dormir, vislumbrou uma última vez o mundo a cores. Riu para si mesmo, com a ingenuidade de quem conhece uma piada graciosa, e que se contada em voz alta não reproduziria nem de longe todos os seus encantos.
Deitou-se em seu leito com sua mente a cantarolar os versos:
"Estou a arrumar um buraco por onde a chuva entra, e impede minha mente de perguntar-se:
Para onde ela iria?"

Continua.

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2 comentários:

Renata Rimanski disse...

Perfeito!!!
Eu já disse que amo tudo que escreve, agora por motivos que você sabe ainda mais! =)
Ah como é bom ..."castanho celeste de seus olhos" rsrsrs
Amei amei!!!***

Unknown disse...

que lindo! dá para notar claramente inspirado agora uahuuahua